quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Dia Mundial da Troca

É estranho, o sorriso sumiu quando eu disse à vendedora a palavrinha mágica: troca. Mais estranho ainda é o fato de uma semana antes ela ter me paparicado até dizer chega tentando me vender um produto similar ao que eu estava tentando trocar. Cheguei à loja e ela estava ali, sorridente me oferecendo ajuda. Será que não passou pela cabeça dela que hoje é o dia mundial da troca? Sendo muito otimista, 80% das pessoas que entram em lojas nesse dia fazem isso apenas para trocarem presentes que ganharam ao longo dessa semana. Então, seria ingenuidade pensar que eu, já com o cartão de crédito pra lá de estourado, adentraria o estabelecimento para fazer umas comprinhas de última hora.

“Fulana, é troca!”, ouço isso com aquele tom de má vontade e vem uma outra para me atender. Geralmente esta, especialista no assunto, sempre faz com que o (a) cliente compre mais um pouquinho. Em muitos casos dá certo. Se pensarmos bem, o natal ainda não acabou. Vemos pessoas nas ruas com os mesmos pacotes em mãos. Desta vez, os pacotes recebidos, e não os que seriam dados. Desta vez, o pensamento de “será que fulano vai gostar?” mudou para “por que fulano me deu esse treco” ou “será que ele não percebeu que eu engordei / emagreci?”. Os questionamentos mudam, as sacolas, inseparáveis companheiras, continuam nas mãos dos consumidores.

A excitação natalina foi embora, agora o que restou foi uma missão, talvez algumas tarefas a fazer. Esse “dever de casa” leva o nome de troca pós-natal, e hoje, é comemorado seu dia, quem sabe algum louco instaure o Dia Mundial da Troca? Tenho que conhecer alguém da ONU, UNESCO... Sei lá, divulgar essa idéia! Depois do dia da sogra, nada mais me surpreende. Enfim, não tenha medo da falta de sorrisos de vendedoras, elas estão sofrendo tanto como nós. Pegue suas sacolas e vá ganhar o mundo! Senão algo me diz que esse presente que foi renegado será repassado para outra pessoa ano que vem... Falta de classe, hein?

Retrô de Natal



O cenário que durante cerca de um mês foi motivo de preocupações e muitos gastos hoje está um caos. Pedacinhos de papel de presentes, laços de fitas, cotocos de palitos que remetem a um “emocionante” campeonato de purrinha realizado durante a espera de Papai Noel (sim, ele vai à minha casa!), papeis de bala (uma criança ocupa o cargo de Rei da casa, e outros tantos burros velhos também se comportam como tal) e algumas petisqueiras oferecendo alguns quitutes ainda estavam no local para relembrar o que a noite anterior já passou. Sim, o natal passou! É hora de juntar os brinquedos e sair do play!

A importância do natal eu realmente não sei, nunca fui uma pessoa religiosa (será que esse é o momento de contar a história da bíblia? Aguarde os próximos parágrafos...), meus pais nunca foram de rezar antes da ceia e sempre quando vinha uma tia mais afoita querendo fazer isso, a minha vontade era de sair correndo dali. Pra mim Cristo nasceu em abril e era aquariano, ou seja, um paradoxo, então não me venha com essa de comemorar o aniversário dele em dezembro que não cola pra mim. Essa data é comercial e pronto! Não vale rezar e não fazer nada pelos outros, fico possessa com essas hipocrisias do povo. É melhor eu parar com o papo religioso porque minhas idéias são muito diferentes para a nossa cultura e nosso tempo!

Onde eu estava mesmo? Ah sim, na “importância” do natal. No meu caso lê-se presentes, lembrancinhas, pesquisa de preço, decoração, comida, roupas, agendamentos... Ou seja, uma festa! E para quem me conhece bem, a organização de uma festa, seja ela qual for, tem prioridade na minha vida! Desde a escolha de uma simples vela verde bandeira com fitinha sei lá de qual cor, passando pela preocupação com quais parente virão e porque os ausentes não virão até a inescrupulosa especulação pré-amigo oculto. Que me desculpem os tradicionais, isso é natal para mim: um evento. Tanto que às 22h do dia 24 eu já estou ficando ou entediada ou triste, pois já não há nada para fazer muito menos nenhum desafio.

Desafio? Ah, sim, ainda restaram alguns para a noite de natal, eu sou como a Petrobrás, o desafio é a nossa energia. Mas nada se compara com os anteriores, agora ficaram apenas as amenidades, talvez as coisas mais chatas de se fazer em eventos como esse, pois são os de convivência. Desafio #1: arranjar assunto – que seja pelo menos interpretavelmente interessante – com aquela sua tia velha que está sentada no canto da sala sozinha. Desafio #2: fingir que a-do-rou aquela “lembrancinha” que você ganhou (se o presenteador já começa se desculpando com “é só uma lembrancinha”... ai ai). Desafio #3: também fingir que a-mou aquele presente de amigo oculto horroroso que deve ter custado uns 9,99 que não tem nada a ver com você enquanto você teve o maior trabalhão para dar um presente legal (nem sempre caro) para quem você tirou. Desafio #4: talvez o mais difícil, em um mundo cheio de amenidades, não parecer falso quando você realmente gostou do presente e simplesmente diz que gostou. Desafio #5: ceder o último pedaço daquela comida maravilhosa que só se come uma vez ao ano “pras visita” poder comer. Só quem já abriu sua casa para receber os amigos e a família sabe o que é isso.

O Papai Noel chega, os presentes são entregues, sempre alguém dá uma mancada nessa hora. Dessa vez fui eu, mas isso não vale a pena ser mencionado. Isso só reforçou o meu ódio por surpresas, principalmente as natalinas! Isso me fez lembrar de natais anteriores onde eu abria todos os presentes embaixo da árvore por pura curiosidade ou talvez, compulsão. O que fez a família toda mudar hábitos e só colocar os tais presentes na tarde do dia 24, quando eu estou mais que atarefada e não tenho tempo para curiosidades, eles também criaram métodos de jogar papéis de amigo oculto no vaso sanitário e dar a descarga só para eu não ir logo depois e ler para saber quem foi. Meu Deus será que eu sou tão compulsiva assim? Mas isso tudo tem origem num trauma (lembra a história da bíblia contada lá em cima? Será explicada) e esse trauma é lembrado toda vez que vejo uma criança ganhando um presente inútil ou sério demais para ela. A história é a seguinte, aos 8 anos tudo que eu queria era o Genius (alô galera do recordar é viver!), com certeza meus pais não me dariam aquilo porque eles só me davam coisas da Barbie, ou eu já havia pedido outras zilhares de coisas para eles. Sabe como é criança, imediatista até morrer, o fato é que minha vida dependia do raio do Genius, se eu não ganhasse “poderia morrer”. Drama, drama, drama. A saída foi atacar a minha avó. Ela passava meses na minha casa, nem tinha como não perceber que eu não queria o jogo, e eu sempre fui uma pessoa muito direta, desde criança. Antes mesmo de eu pedir, a velha chega para mim e diz que comprou um presente para mim que meus olhos iriam brilhar e me mostrou a caixa embaixo da árvore, quase um mês antes do natal, pesadinha igualzinha à do Genius! Ou seja, (cerveja!), o que eu mais quero, óbvio, como a minha vozinha é esperta! Eu nem precisei jogar meu latim infanto-juvenil nela. Na hora do Papai Noel, o cara me chama e lá vou eu, toda me achando contando pros primos, já preparadíssima pra joga e quando abro... Uma Bíblia enorme com dedicatória dela e do meu avô. Sim, meus olhos brilharam, de raiva. Alguém já viu uma criança dando esporro em uma velha fofíssinha? Quem não viu perdeu a oportunidade 13 anos atrás porque quando ela foi me perguntar se eu gostei do presente não me segurei e falei tudo pra ela. Que raiva, acho que esse foi o presente maus inútil do mundo. E é por isso que eu me apavoro tanto com surpresas, por isso que eu bolo esquemas táticos para me livrar ou tentar descobri-las antes, para que essas situações não aconteçam. Aposto que todo mundo já passou, em algum grau de intensidade por essa situação. Comigo foram várias, mas essa foi a mais conhecida.

Tive uma surpresa boa esse ano, troquei uma kitchinete por um amplo dois quartos com varanda. Não, não me mudei. Meus peixes, sim. Alguém tem que se mudar! Em meio a tantos presentes eu acabei percebendo que em alguns casos o melhor presente que se pode dar é um abraço e uma palavra amiga a quem está precisando. E que nessas horas, nem que seja por uns minutinhos, a gente se recolhe do grupo e vai ajudar quem está aflito ou precisando de uma atenção especial, mesmo que seja sem saber, o maior presente foi dado ali, conversando calmamente, dando apoio. Sem precisar entrar em nenhuma loja, apenas usando os ouvidos e tentando falar coisas certas como consolo um belo presente foi entregue no meio de um monte de restos de papéis de outros. E essas coisas são facinhas de encontrar na “loja” da amizade!

Sorrisos forçados, convivências não tão amigáveis, sinceridades travadas, gastos excessivos, preocupações não tão necessárias e muita, muita coisa para arrumar nos dias seguintes acabam perdendo para o time dos risos escancarados, matar a saudade de quem se vê pouco, zoações explícitas, parcelamento de cartão de crédito, planejamento de reveillon durante o próprio natal, e amigos ajudando a limpar a zona. Como nos filmes do Hollywood, o bem vence o mal e o time negativo acabou sendo neutralizado pelo positivo. E daí que se gastou muito? Temos os ano todo para pagar e correr atrás do prejuízo. Os sorrisos forçados para alguns foram esquecidos no momento em que se gargalhavam com outros. Nunca podemos ter nada perfeito, o que faz da vida tão legal é essa bagunça que ela é. Este, como todos os outros, não foi perfeito e nem faço muita questão de que se aproxime desse conceito. Afinal, não estou ganhando para isso (ainda).
Eu espero que o seu natal tenha sido assim, não tão perfeito, divertido e sempre com aqueles detalhezinhos para falar mal com os amigos. Afinal, um comentário completo tem falar mal de alguma coisinha, somos filhos de Deus e ele nos eu a ironia e o sarcasmo para nos divertimos. O jeito é esperar o natal de 2008, com aquelas mesmas comidas, deixando o último pedaço pras visitas... (atire a pedra quem nunca fez isso!). Antes que eu esqueça, como fiz neste ano, tenha um feliz natal (em 2008), esta mensagem é válida para os próximos trezentos e sessenta e poucos dias, certamente nessa época eu estarei atoladíssima como fiquei neste ano. Muitos “felizes natal” ao longo do ano que vem: reúna a família e os amigos mais vezes em casa, não só nesta data, faz muito bem à alma. Tente gargalhar ao invés de sorrir amarelo e seja feliz nesses 300 e poucos dias. Boas festas! Ainda dá tempo de planejar o reveillon!